No último sábado (8/11),  cerimônias em Piracicaba (SP) e Aracaju (SE) marcaram o encerramento do Curso de Alfabetização Digital para Trabalhadoras Domésticas. A iniciativa é do projeto  regional “Fortalecendo o Movimento de Trabalhadoras Domésticas por Meio da Aprendizagem e da Tecnologia”, coordenado no Brasil pela Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos e pela Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), com apoio de Care e da Cummis. Na cerimônia de formatura, ao todo, 54 mulheres receberam seus certificados: 36 em Aracaju (SE) e 18 em Piracicaba (SP). As celebrações, realizadas no Instituto Federal de Sergipe (IFS) e na Universidade Anhembi Morumbi – campus Piracicaba, marcaram o encerramento de um ciclo de aprendizado e o fortalecimento da autonomia e do protagonismo das trabalhadoras domésticas por meio da educação digital.

Conquista coletiva e gerações unidas em Aracaju

Em Aracaju, a formatura reuniu alunas, lideranças sindicais e representantes institucionais. O evento teve início com uma aula sobre o aplicativo Laudelina, ministrada Morgana Becker, assistente de projetos da Themis. As participantes aprenderam a criar cadastros, navegar pelas principais funcionalidades da plataforma e utilizar a Calculadora de Direitos, ferramenta que auxilia no conhecimento e na defesa dos direitos da categoria.

O evento contou com a  participação também de Adinete Canuto e Quitéria da Silva Santos (Sindicato de Trabalhadoras Domésticas de Sergipe), Caroline Sousa Santos (CUT), Pâmela Santana (IFS) e Ruth Sales (reitora do Instituto). Em suas falas, elas destacaram a importância da formação digital como instrumento de valorização profissional, inclusão e fortalecimento político-sindical das trabalhadoras da categoria a favor dos seus direitos

Um dos momentos marcantes foi a participação de três mães acompanhadas de suas filhas, todas trabalhadoras domésticas. As mães, que dedicaram anos de suas vidas à profissão, decidiram realizar o curso na companhia de suas filhas. Na percepção dessas trabalhadoras, a alfabetização digital é um campo transformador que gera novas oportunidades de crescimento individual e coletivo, além de autonomia.

Para Adinete dos Santos Canuto, vice-presidenta do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Sergipe (Sindoméstico-SE) e aluna do curso, a experiência foi marcante e transformadora:

“Foi um desafio na vida de todas nós. Por exercer a nossa profissão de trabalhadora doméstica e sermos donas de casa, não temos tempo de chegar à noite e fazer um curso. Aprendemos a ligar o computador, usar o gov.br, a carteira digital, e até fizemos nosso próprio currículo. Fomos aprendendo e manuseando algumas coisas a mais, devagarzinho. Já pedimos para avaliarem a possibilidade de no próximo ano ter uma nova turma”.

A turma de Aracaju encerrou o curso com 38 mulheres certificadas, resultado do engajamento das alunas e da criatividade da monitora, Pamela, que incorporou temas como o Outubro Rosa nas atividades.

““Formamos 38 alunas em uma turma de 40, muitas delas próximas dos 40 anos e sem qualquer familiaridade com o computador – mais de 80% nunca haviam manuseado um. A formação teve um papel crucial na construção da autonomia e da cidadania, permitindo que deixassem de depender de outras pessoas para tarefas básicas do dia a dia. A evolução foi impressionante: chegaram sem saber sequer ligar o computador e saíram utilizando o aplicativo Laudelina, acessando o gov.br, criando e-mails, redigindo currículos e cartas de apresentação, além de desenvolverem oratória. O aproveitamento ao longo do curso alcançou pelo menos 80%”, comenta.

Celebração e aprendizado em Piracicaba
Em Piracicaba (SP), o encerramento da primeira edição do curso reuniu trabalhadoras domésticas na Universidade Anhembi Morumbi. A atividade começou com uma aula sobre o aplicativo Laudelina, conduzida por Karoline Rosa, assessora de projetos da Themis, que demonstrou como a ferramenta pode ser usada no combate à violação de direitos.

O evento incluiu além de falas coletivas, trocas e depoimentos, atividades de cuidado e bem-estar promovidas pelo grupo de extensão Projeto Conexão Mente e Saúde, da universidade. Foram oferecidos serviços de verificação de pressão arterial, auriculoterapia, massagem e distribuição de materiais informativos.
Durante a cerimônia de certificação, também estiveram presentes lideranças do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Piracicaba, a docente Flávia Góes, responsável pelo acompanhamento da turma.

O momento foi marcado por discursos de emoção e reconhecimento, seguidos de um lanche coletivo organizado pelas próprias alunas. A turma de Piracicaba se destacou pelo envolvimento ativo da Universidade Anhembi Morumbi. Além da professora Flávia, os monitores Wesley e Mariana, grupos de extensão e outros setores da instituição contribuíram para o sucesso do curso. Parceiros da universidade também enviaram presentes simbólicos às formandas, como forma de reconhecimento e valorização do momento.

A professora Flavia percebeu nas alunas um interesse genuíno em aprender e se desenvolver. “São mulheres carinhosas, gratas pela oportunidade e que, em sua maioria, nunca tinham vivenciado esse universo digital. A formação trouxe não só conhecimento técnico, mas também resgate de autoestima e motivação. Elas entenderam que podem, sim, elaborar um currículo, desenvolver habilidades digitais e reconhecer o valor de sua própria profissão. A evolução foi notória: sempre atentas, curiosas e dispostas a perguntar. Ver o quanto elas saíram diferentes de como chegaram é um presente para nós, especialmente ao testemunhar, no dia da formatura, o orgulho e a satisfação delas por essa conquista”, afirmou.
As formaturas em Aracaju e Piracicaba reafirmaram o compromisso da Themis, da Fenatrad e das instituições parceiras com a inclusão digital, a educação popular e a justiça social para a defesa dos direitos das trabalhadoras da categoria.
Mais do que o encerramento de uma formação, os encontros celebraram a construção coletiva de saberes, a ampliação das redes de apoio e o fortalecimento da luta por direitos da categoria.