“O lugar da mulher é onde ela quer estar”, afirma psicóloga Marilú Goulart
Por Fernanda La Cruz* – Afinal, o que é gênero? Durante o encontro do dia 20 de junho de 2015 do 14º Curso de Formação de Promotoras Legais Populares (PLPs) da Restinga, essa foi a questão mais discutida. Para Marilú Goulart, esse também é o ponto fundamental quando se fala em luta por direitos iguais. Segundo a psicóloga, na vida social e sexual “cada um tem o direito de ser o que quiser”. De acordo com Marilú, toda a vida em sociedade está fundamentada no padrão de casamento estabelecido entre um homem e uma mulher. É através dessa engrenagem que giram os eixos da vida política, moral e religiosa. Por isso é sempre tão complexa a quebra de preconceitos. “É necessário entender que opção sexual não existe. O que cada um de nós tem é a sua própria natureza, que deve ser seguida e respeitada.”
Para que as PLPs consigam operar com ética e eficiência dentro das comunidades, Marilú sugere que se estabeleçam vínculos de proximidade, confiança e respeito ao outro. Para isso, a psicóloga orienta que todo processo de acolhimento se desenvolve através da escuta sensível. “Escutar é diferente de ouvir. A palavra certa é outrar-se. Isso ocorre quando você está disposto a entender o mundo do outro e essa escuta causa alguma transformação em você. E, percebendo o outro, percebendo o assunto debatido hoje, quando você sair daqui, não será mais a mesma pessoa que entrou”.
É importante se indignar contra todas as formas de agressão, sejam simbólicas, psicológicas ou físicas para que o padrão de violência seja quebrado. Marilú explica que “basta ser mulher pra ter sofrido algum tipo de violência”. O papel das PLPs é não deixar que mulheres sofram sozinhas. De acordo com a psicóloga, acolher é ter “a escuta sensível continuamente”. Uma mulher que procura ajuda deseja iniciar um vínculo, e aí está o recomeço de tudo. O vínculo se forma no momento em que uma mulher passa a se importar com outra, formando uma corrente que enfrenta e debate situações adversas – mas juntas. É unanimidade entre as promotoras que a confiança é o primeiro passo para auxiliar uma vítima em seu processo de reestruturação e ressignificação. “Nosso trabalho funciona como um confessionário. Tudo que será falado em sigilo se manterá guardado. Confiança será a palavra-chave”, avaliam.
A Lei Maria da Penha foi uma conquista para a manutenção e a busca por igualdade no direito das mulheres. Fato é que ainda existem outros objetivos a serem conquistados, mas as lutas dos movimentos feministas podem mudar este quadro. “Os números apontam a necessidade de políticas públicas e essas políticas precisam existir. Não podem ser apenas números para o resto da vida”, enfatiza a psicóloga.
Marilú avalia que a importância das promotoras é crucial, uma vez que, dotadas de conhecimento e apoio jurídico, “elas têm acesso à informação que a maioria das mulheres não tem e ainda mais: estão onde os serviços de assistência não chegam”. Mudar o mundo com amor, desenvolver autoconfiança, propagar a luta do feminismo, conquistar respeito, empoderar mulheres, somar olhares e gerar novas formas de pensar. Questionadas sobre seus desafios diários, essas são as respostas das Promotoras Legais Populares. Atestando o que Marilú garantiu no início do encontro, a advogada e membro da THEMIS, Beatriz Vasconcellos, conclui que “hoje, todas nós sairemos diferentes daqui. Agora e daqui pra frente, nós somos um pouco de todas nós”.
*Estudante de Jornalismo da UniRitter/Colaboradora
Confira aqui o álbum completo de fotos do 14º Curso de Formação de PLPs.
Este curso conta com o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM/PR)