Há 25 anos na defesa e promoção dos direitos das mulheres

Conheça a atuação de três Promotoras Legais Populares (PLPs) durante a pandemia

Durante a pandemia de coronavírus, as Promotoras Legais Populares (PLPs) têm atuado no acompanhamento de mulheres em situação de violência e na promoção e garantia dos direitos humanos das mulheres. Como parte da campanha #DefesadeDireitos, a Themis mostra a atuação de PLPs em Canoas e em Porto Alegre. Conheça a campanha #DefesadeDireitos e clique aqui para saber como doar.

 

Elaine de Souza

Um olho na máquina de costura, outro no WhatsApp. É assim que tem sido a rotina da promotora legal popular (PLP) Elaine de Souza, 50 anos, desde o início da pandemia de coronavírus, em março.

Se antes Elaine atuava na defesa e na promoção de direitos de mulheres em atendimentos presenciais, agora, com a crise sanitária, ela teve de se adaptar: o olho no olho passou para o aplicativo. É por meio dele que a moradora do bairro Rio Branco, em Canoas, tem auxiliado quem a procura. Enquanto PLP, a agente fornece informações jurídicas sobre o que fazer em caso de violência física, psicológica, maus tratos e todos os tipos de abusos, encaminhando, se necessário, as vítimas às instituições públicas competentes.

Se o ambiente de atendimento mudou, a afetividade continua a mesma. “É muito desafiador não poder estar próxima. Por mais que seja uma conversa pelo WhatsApp, dou sempre o melhor de mim. Já passei por situações difíceis, então, sei o valor da escuta e de transmitir uma mensagem de esperança. Elas precisam saber que não estão sozinhas. Pelo contrário, estamos juntas para atravessar esse caminho difícil”, relata Elaine.

Desde 2018, quando se formou no curso de PLPs promovido pela Themis, a costureira ampliou sua capacidade de intervenção em sua realidade próxima, nas relações interpessoais, familiares e comunitárias. No âmbito pessoal, resgatou ensinamentos de corte e costura da mãe, Cleci Pacheco de Souza, e abriu o próprio ateliê. Fica na cozinha de casa e tem espaço limitado, mas é o suficiente para bancar o próprio sustento. A produção de máscaras já chega a mais de 15 mil unidades. Dessas, 1 mil foram doadas à comunidade, incluindo mulheres atendidas por ela. “Aquelas que me contatam pelo Whats são convidadas a vir na minha casa pegar máscara. Dá uma alegria vê-las circulando com os produtos feitos pelas minhas mãos”, conta.

Entendendo que os tempos de pandemia exigem suporte extra na defesa dos direitos tanto das PLPs quanto das trabalhadoras domésticas, a Themis criou a campanha #defesadedireitos. Elaine, uma das beneficiadas, recebeu recarga de celular, cesta básica e kit de higiene. “Me emociona fazer parte dessa rede de amor e cuidado”, afirma a PLP.

Vanessa Campo de Borba

Atuante como Promotora Legal Popular (PLP) desde 2018, Vanessa Campo de Borba viu sua rotina ser transformada desde o início da pandemia, mas sem deixar de dar espaço ao atendimento a mulheres vítimas de violência.

A canoense de 42 anos é mãe de seis filhos (dois deles “do coração”), a quem dedica grande parte do dia, especialmente às três caçulas, de três, 10 e 14 anos, que vivem com ela e o marido. Mesmo em tempos de afastamento social, Vanessa manteve a atuação como PLP e o trabalho como relações comunitárias em um espaço social no bairro Niterói. No início da pandemia, chegou a pensar que haveria diminuição de casos de violência doméstica. Logo, porém, foi contatada para realizar atendimento a três mulheres. “O coronavírus diminuiu a chance de as mulheres chegarem até nós, porque, às vezes, o agressor está com elas 24 horas em casa. Mas nosso trabalho como PLPs está sendo bem divulgado, então umas contam às outras e os casos acabam chegando na gente. Geralmente, somos procurados por WhatsApp para pedir orientações”, explica ela.

Nesse primeiro contato por telefone, Vanessa e as colegas PLPs costumam fazer uma escuta para conhecer a situação. Um dos casos mais difíceis atendidos por Vanessa durante a pandemia foi a de uma mulher mantida em cárcere privado pelo companheiro.

Além de encaminhar as mulheres às instituições competentes, Vanessa sonha com oportunidades para que elas possam desenvolver autoconfiança depois das violências sofridas. Para ela, a criação de um projeto que forneça próteses dentárias está entre as iniciativas mais urgentes.

Entendendo que os tempos de pandemia exigem um suporte extra na defesa dos direitos tanto das PLPs quanto das trabalhadoras domésticas, a Themis criou a campanha #defesadedireitos, composta por medidas emergenciais, como fornecimento de alimentos, recargas de celular, apoio à saúde mental e ampliação das ações de atenção à violência contra as mulheres.

 

Sebastiana Sueli Olson

“Chama a Pipoca”. Na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, Pipoca responde pelo nome de Sebastiana Sueli Olson, 38 anos, uma Promotora Legal Popular (PLP) conhecida por se deslocar de um canto para outro com agilidade para resolver atritos e problemas da comunidade na zona leste da capital gaúcha.

A pandemia, que exige isolamento da população, também fez com que Sebastiana usasse de sua versatilidade para se adaptar às novas regras sociais. Enquanto coordenadora do SIM Lomba do Pinheiro, transferiu os atendimentos presenciais para o WhatsApp. O número de acolhimentos teve queda significativa. Foram dois, apenas, desde o início da crise sanitária. “A falta de acesso à internet e de recarga nos celulares pode ser uma das justificativas. Além disso, muitas mulheres podem não ter meu número, podem não ter coragem de ligar por estar com o marido em casa”, avalia a liderança, que recebeu da Themis recarga no aparelho para poder seguir com a prestação de serviços.

Embora escassos, ambos os atendimentos foram resolutivos. “Uma delas até levei ao Palácio da Polícia. Mas, depois, o marido tomou prumo e entendeu que estávamos fazendo a coisa certa. Agora, estão bem”, comemora.

Auxiliar de serviços gerais em uma paróquia do bairro, a PLP está afastada do trabalho desde março. Também teve de deixar de lado as atividades na horta comunitária e nos diversos grupos de que participa. Por outro lado, tem usado o tempo para cuidar de si: está sendo acompanhada pela Clínica Feminista Interseccional da UFRGS, atendimento em grupo de ajuda mútua junto a outras PLPs pelo WhatsApp. “Para uma pessoa que está só em casa como eu, é maravilhoso. É um ambiente seguro, onde posso expor minhas angústias”, conta.

Com a compreensão de que os tempos de pandemia exigem um suporte extra na defesa dos direitos tanto das PLPs quanto das trabalhadoras domésticas, a Themis criou a campanha #defesadedireitos.


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