Themis entrevista: Mulheres Negras Decidem
Neste período eleitoral, a Themis publicará uma série de entrevistas com representantes de iniciativas que estimulam a participação das mulheres na política. A primeira delas é o movimento Mulheres Negras Decidem, criado para garantir espaços seguros para a articulação política das mulheres negras. Uma das ações do movimento, o projeto Estamos Prontas apoia, em parceria com o Instituto Marielle Franco, 27 candidatas negras que são lideranças coletivas em todas as regiões do país. Conheça mais sobre o Mulheres Negras Decidem na entrevista com a coordenadora Institucional, Beatriz Amparo, a coordenadora política, Tainah Pereira, e a coordenadora de pesquisa, Gabrielle Abreu.
A entrevista foi respondida de forma coletiva:
Como foi criada e como tem atuado o movimento Mulheres Negras Decidem?
O movimento Mulheres Negras Decidem surgiu no programa Minas de Dados, organizado pela Transparência Brasil em parceria com o data_labe e Pretalab. Nosso objetivo era qualificar a discussão sobre a sub-representação de mulheres negras na política e nos demais espaços de decisão, e também garantir espaços seguros para a parcela feminina e negra da população se articular politicamente no Brasil, país líder em casos de violência política de gênero e raça. Desde 2018, o Movimento Mulheres Negras Decidem já entregou uma série de produtos informativos, comunicacionais e de capacitação alinhados à missão de multiplicar o legado político de mulheres negras brasileiras. Nossas principais atividades estratégicas envolvem formação política, reposicionamento de temas na agenda pública e pesquisas centradas em dados.
Destacamos o relatório Mulheres Negras Decidem – Para Onde Vamos, realizado em parceria com o Instituto Marielle Franco, já no contexto da crise pandêmica, onde entrevistamos mais de 200 mulheres negras ativistas e diagnosticamos suas principais ações nos primeiros meses de pandemia.
O livro A radical imaginação política das mulheres negras brasileiras e a websérie documental “Para Onde Vamos” são dois dos produtos mais recentes e de maior impacto do movimento. Ambos foram desenvolvidos em parceria com instituições aliadas importantes como a Fundação Rosa Luxemburgo e o Canal Brasil, respectivamente.
Ainda em 2022, lançamos o Estamos Prontas, com o Instituto Marielle Franco. Estamos Prontas é uma iniciativa que busca ampliar a presença e participação de mulheres negras na política institucional, influenciando o debate público sobre a importância da presença de corpos negros nos espaços de decisão, multiplicando o legado da agenda programática de mulheres negras e fomentando uma rede nacional e internacional de movimentos e organizações engajados pelo tema.
Como o projeto Estamos Prontas mapeou as candidaturas de mulheres negras em todas as regiões brasileiras?
Para chegar ao grupo de 27 mulheres negras lideranças coletivas apoiadas pelo projeto, fizemos um edital de seleção, amplamente divulgado em nossas redes. Em alguns estados a penetração foi mais difícil, por isso fizemos uma busca ativa com ativistas e organizações locais que nos indicaram os caminhos para alcançar mais mulheres negras que tinham a intenção de se lançar na política institucional neste ano de 2022. Foram mais de 200 inscrições via formulário, a partir das quais foram selecionadas mais de 60 candidatas para a fase de entrevistas em profundidade. O grupo original de 27 lideranças também cresceu à medida que algumas de nossas apoiadas decidiram aliar-se a outras lideranças para construir candidaturas coletivas. Atualmente, 40 mulheres negras fazem parte da rede Estamos Prontas.
Qual a importância da participação das mulheres negras na política e em espaços de poder e de tomada de decisão?
As mulheres negras representam o maior grupo demográfico do país (28% da população brasileira), embora este número não esteja refletido nas Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional. A importância da participação de mais mulheres negras na política e em espaços de poder e tomada de decisão se confirma quando identificamos, numa sociedade marcada pelo racismo estrutural e pela misoginia e que acomete as mulheres negras que visualizam a política – sobretudo a disputa eleitoral – o caminho possível na luta por direitos e bem viver.
Com racismo e machismo, não há democracia. Por isso a urgente necessidade de construção de uma sociedade a partir da ampla participação de mulheres negras na democracia. Confiar, construir e fortalecer mulheres negras é qualificar o percurso democrático brasileiro.
Quais são as pautas comuns entre a diversidade de candidatas Apresentadas pelo Estamos Prontas?
As agendas prioritárias das mulheres negras na política refletem os anseios e desejos da expressa maioria da população: garantia de acesso à saúde pública e de qualidade, educação pública e gratuita para todas e todos, emprego digno e recuperação da renda das trabalhadoras e trabalhadores, principalmente diante da crise pandêmica. Também são temas recorrentes a defesa de uma matriz econômica sustentável capaz de garantir a resiliência dos territórios, sobretudo daqueles habitados por pessoas em situação de maior vulnerabilidade como os povos originários, além da defesa dos direitos humanos, com o respeito às diversidades. Tudo isso sob a lente analítica da interseccionalidade, isto é, considerando elementos fundamentais do exercício da cidadania como raça, gênero, orientação sexual, território e expressão religiosa.