Há 25 anos na defesa e promoção dos direitos das mulheres

Encontro conta com a participação da rede familiar das JMCS

“É incrível perceber como a minha história se repete na vida de outras meninas”, diz uma futura Jovem Multiplicadora de Cidadania (JMCs), que se reconheceu na trajetória de outras jovens que participaram de uma conversa afetiva e emocionada neste sábado (28), na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. 

Diferentemente das anteriores, na aula do fim de semana as jovens ativistas tinham a missão de levar alguma pessoa da sua rede de apoio para acompanhar o encontro. O objetivo, explica Ana Paula Arosi, Coordenadora Pedagógica do 7° Curso de Formação de Jovens Multiplicadoras de Cidadania da Themis, foi apresentar a atuação da Themis e proporcionar que os familiares das participantes pudessem compreender como funciona o programa projeto e poder tirar dúvidas. “É muito importante poder incluir as redes das jovens neste processo, pois é fundamental que entendam o que está sendo trabalhado. Conversando com os familiares, eles relatam transformações nas jovens, que voltam para casa com ideias, com vontade de conversar. Muitas delas, estão menos tímidas. E a ideia do programa é justamente essa: é um investimento nessas jovens para que, a partir dos conhecimentos adquiridos, possam construir uma trajetória de defesa dos direitos das mulheres. Não só individuais, mas de outras mulheres também”, pontua Ana. 

Júlia Batista Casal, 22 anos, moradora do bairro Santa Rosa, foi acompanhada do pai, Célvio Casal, 42 anos, à Casa de Cultura. Orgulhosa, conta que foi o genitor quem lhe indicou o curso, bem como apresentou o feminismo: “Meu pai é muito importante para mim, fico muito feliz de ele poder fazer parte disso. O curso tem muito a ver comigo, com as coisas que acredito, e parte disso foi ele quem me apresentou, ainda na pré-adolescência”.

Bibliotecário, Célvio entende que a formação promovida pela Themis tem ampliado a compreensão de mundo da filha: “Algumas pautas do curso são conversas nossas. Vejo uma maturidade de ideias, da compreensão de como as coisas estão conectadas no mundo e de como ela pode intervir. Desde sempre ela faz isso, mas o curso está dando uma base muito boa. E estou muito feliz de poder participar desta roda de trocas e afetos e de conhecer a realidade de outras jovens e suas famílias”. 

Cassiana Oliveira da Rocha, 15 anos, moradora da Lomba do Pinheiro, se considera uma “chicletinho” da sua mãe, Ruth Margareth Oliveira de Sousa, 57 anos. Educadora infantil aposentada, Ruth sempre acompanha a filha nas atividades, mas normalmente fica do lado de fora da sala, à espera do término das atividades. No sábado, sentiu-se honrada de poder fazer parte do encontro. “É emocionante, as histórias se repetem. Muitas mães precisam cuidar sozinhas das filhas. E o curso aborda temas nem sempre tão fáceis de se falar em casa, como o sexo. Na aula anterior, sobre sexologia, ela aprendeu muita coisa, e ela traz esse conhecimento para dentro de casa”, diz Ruth. 

Realidades tão parecidas fazem com que o processo de identificação entre as jovens e as famílias torne-se quase imediato, diz Cassiana. “Nossas histórias, de jovens periféricas, de pele preta, fazem com que a gente saiba da nossa luta e do que a gente passa. São os mesmos medos e as mesmas vontades e desejos. Este curso me ensina coisas que não sabia que tinha empoderamento suficiente para fazer”, afirma.  

Nem o pai, nem a mãe. Quem acompanhou Maria Alejandra Villa Giraldo, 17 anos, moradora do Partenon no encontro foram a irmã, Madison Elize, 20 anos, e o irmão, Cristian Estiwar, 19 anos. Há menos de um ano, os irmãos desembarcaram de Santa Marta, uma cidade costeira ao norte da Colômbia, em busca de uma vida melhor no Brasil. “Logo que descobri a formação, me inscrevi. Queria aprender mais. E assim está sendo, sobretudo, sobre meus direitos, como denunciar assédio e entender como o machismo está presente no nosso dia a dia”, diz Maria. “Minha irmã sempre foi uma voz muito forte. Agora, está muito potente. Ela nos ensina muito, nos aponta quando estamos errados, sempre trazendo novos conhecimentos. Estar aqui hoje nos mostra que outras pessoas também passaram por coisas muito fortes e que estamos todos juntos na luta”, interrompe Madison. Já Cristian se sente privilegiado por conviver com as irmãs e, mais do que isso, ser influenciado por elas: “Ontem (sexta), por exemplo, Maria teve uma aula sobre sexualidade e, depois, conversamos muito sobre o tema. Ela sempre tem um ponto de vista diferente para me apresentar. Penso que posso me tornar um homem melhor na sociedade”.

Ana Caroline Goulart Rocha, 17 anos, moradora do bairro Mário Quintana, foi ao encontro acompanhada da mãe, Karliane Goulart da Silvia, 34 anos, cuidadora de idosos, do padrasto, Everton Martins, 36 anos, carpinteiro, e da irmã caçula, Allice Goulart Martins, um ano e dois meses. “Sempre que as aulas são online, fico de ouvido atento, para ver o que discutem e o que posso aprender. Vejo a Ana sabendo cada vez mais sobre leis e direitos das mulheres negras. E isso é importante para mim também. Então, ela traz muito conhecimento para dentro de casa. Ela me empodera! Estar aqui hoje, com ela e outros pais e mães, foi muito especial”, afirma Ana. Para a jovem, o momento de compartilhamento de afetos foi “especial” e a formação tem trazido autoconhecimento para todas as jovens, bem como uma rede de apoio: “Criamos uma amizade e união muito fortes, e isso nos empodera. Eu tinha medo de falar e fazer algumas coisas, e agora já me sinto mais forte. Parece que eu acordo mais inteligente, é muito bonito”, conta Ana, entusiasmada. 

Além dos abraços carinhosos, da entrega de um lenço para a mãe sentada na cadeira ao lado enxugar uma lágrima, das mútuas palavras de conforto, o encontro também permitiu que pais tirassem dúvidas sobre o projeto, bem como a atuação da Themis. Entre os principais questionamentos, estava a pergunta “e depois da formatura?”, prevista para 17 de novembro. Ana, coordenadora pedagógica, explicou: “O curso é um investimento em vocês, de defesa dos direitos das mulheres. E, daqui pra frente, se fizer sentido para vocês, vamos precisar que vocês se engajem em campanhas e projetos que se relacionem com as pautas discutidas no projeto”. Um exemplo possível seria uma nova campanha de Carnaval. Na sexta edição da formação, as jovens planejaram e produziram a campanha “Respeita as Gurias na Folia”, que aconteceu durante a folia e teve como objetivo o combate ao assédio e prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). A campanha impactou milhares de pessoas em ações presenciais e pelas redes da Themis de forma virtual.

O 7° Curso de Jovens Multiplicadoras de Cidadania é promovido pela Themis em parceria com o Centro Interdisciplinar de Educação Social e Socioeducação e a Faculdade de Educação da UFRGS e com apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

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