Há 25 anos na defesa e promoção dos direitos das mulheres

Dezenas de trabalhadoras domésticas e Promotoras Legais Populares compartilham conhecimentos em aula com Winnie Bueno

 

Winnie Bueno falou para dezenas de PLPs e trabalhadoras domésticas. Crédito: Themis/Reprodução

Um convite da Themis para participar de uma formação sobre Imagens de Controle, Mulheres e Trabalho com a escritora Winnie Bueno deu início a uma potente experiência de compartilhamento de conhecimento, vivências e afetos para dezenas de trabalhadoras domésticas e Promotoras Legais Populares. O curso foi realizado online, pela plataforma Zoom, nos dias 27 e 28 de julho, com tradução simultânea para espanhol, para contemplar a participação de trabalhadoras da América Latina.

Ao realizar a abertura do evento, a diretora-executiva da Themis, Márcia Soares, falou sobre a alegria de voltar a contar com a colaboração de Winnie, que já lecionou no curso de formação de Promotoras Legais Populares. “O dia de hoje é uma celebração de nosso reconhecimento da importância deste tema para todas nós. Winnie é uma pensadora que há muito vem discutindo temas sobres questoes raciais, de gênero, direitos humanos, intolerância religiosa e pensamento feminista negro. Ela nos ensina, nos estimula a pensar e inspira o nosso ativismo”, afirmou Márcia.

Em seguida, Winnie Bueno apresentou a base da pesquisa acadêmica sobre a qual escreveu o livro “Imagens de Controle: um Conceito do Pensamento de Patricia Hill Collins”. O termo é usado para descrever como mulheres negras são atravessadas por ideias construídas sobre seus corpos e comportamentos. “Quando falamos de mulheres, trabalho e imagens de controle, é necessário entender que a exploração de mulheres negras é central para a manutenção do capitalismo”, introduziu Winnie. “Collins organiza o que é uma opressão: qualquer situação injusta na qual sistematicamente, por um longo período, um grupo nega a outro grupo o acesso a certos espaços da sociedade. (..) No Brasil, as pessoas não brancas são oprimidas de forma sistemática e histórica. A exploração do trabalho das mulheres, no contexto brasileiro tem contornos importantes que não se podem resumir à opressão de gênero: ela também tem uma dimensão racial”, disse ela.

Mais do que explicar sobre seus estudos e introduzir o pensamento de intelectuais negras como Sueli Carneiro, Conceição Evaristo, Jurema Werneck,Vilma Piedade e Cida Bento, Winnie abriu espaço para as experiências das participantes. Ao longo da aula, nas intervenções ao vivo e nos comentários do bate-papo, as alunas relataram como o conteúdo se relacionava com suas trajetórias. “A aula mostrou que, assim como eu venci muitos momentos de humilhação, também outras mulheres estão emergindo de uma vida de opressão para uma realidade de lutas e busca por direitos. Gratidão por fazer parte deste grupo de mulheres e por ter a Themis como protagonista dessas mudanças, lindo ouvir esta grande mulher, que traz seu aprendizado na troca de sabores”, escreveu uma aluna no chat durante o primeiro dia.

Mesmo sem saber ler e escrever, a trabalhadora doméstica Regina do Carmo Botelho, de Nova Iguaçu (RJ), usou os recursos do Zoom no celular para acessar o conhecimento e se reunir com as trabalhadoras. “Me orgulho de ser trabalhadora doméstica, gosto de trabalhar. Sempre sofri muito, mas hoje estou bem. Desde os 10 anos trabalhei, minha mãe viajava e me deixava, eu tinha que cuidar das crianças e de várias coisas. Já fui humilhada ao trabalhar em casas de família, mas hoje me sinto bem, alegre. Sou analfabeta, não sei ler, mas estou aprendendo. Agradeço a todas que estão me ajudando”, disse Regina.

No encerramento da formação, Winnie falou sobre a relevância da articulação de estratégias de resistência e de sobrevivência das trabalhadoras domésticas e de sua capacidade de transformar a ação em conhecimento para gerar transformação social. 

“Vivemos em uma sociedade e em um país que se assusta com a possibilidade de articulação das trabalhadoras domésticas. É importante que entendamos nossas diferenças e atuemos a partir delas. Se sairmos daqui entendendo o valor de cada uma de nós, das nossas articulações, dos sindicatos e das lutas coletivas das trabalhadoras domésticas, podemos gerar uma mudança importante. Essa mudança é a possibilidade real de que quem veio antes e depois de nós sejam reconhecidas em sua potência como pessoas, em sua possibilidade de construção criativa, sejam reconhecidas como sujeitos, como indivíduos”, afirmou.

A formação “Imagens de controle, mulheres e trabalho” faz parte da agenda interseccional do projeto Mulheres, Dignidade e Trabalho – Fase II e está vinculada ao projeto Fortalecendo o movimento de trabalhadoras domésticas através da aprendizagem e da tecnologia. Antes da formação com Winnie Bueno, a Themis e a Fenatrad já realizaram aulas e diálogos com a pensadora do trabalho doméstico Silvia Federici e a subsecretária da mulher e da equidade de gênero do Chile, Luz Vidal. 

Veja mais depoimentos de participantes:

Maria José Ferreira
Parabéns Winnie por essa aula muito boa devemos saber quem somos de verdade e nunca deixar de lutar por nossos direitos e reconhecimento.

Suélen Silva
Ainda continuamos sendo a base da pirâmide social. Mas é urgente mudarmos isso! Com muito respeito, dignidade e direitos garantidos.

Rosangela Santana Conceição
Sou de Salvador/Bahia. Muita resistência e luta do nosso povo! Luta que segue com a inspiração daquelas que nos antecederam!

Caren Cristiane da Rosa Castencio
Primeira vez que escuto a Winnie, estou encantada, uma aula fantástica. Muito clara, didática e com um conhecimento que encanta. Parabéns!

Maria Noeli dos Santos
Boa noite a todas, muito obrigada pela aula maravilhosa, muitas reflexões. Maria Noeli, trabalhadora doméstica com orgulho.

Nara Terezinha
Quero agradecer, dizer que o nosso conhecimento é amalgamado com muitas cascas da participação de muitas pessoas!


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