Ativistas repercutem a eleição da ex-trabalhadora doméstica Francia Márquez na Colômbia
Ativista em defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, a advogada Francia Márquez, 40 anos anos, foi eleita no domingo (19) vice-presidente da Colômbia, a primeira mulher negra a ocupar o cargo. Ela atuará ao lado de Gustavo Petro, um ex-combatente da guerrilha M-19, na primeira presidência de esquerda no país. Para ativistas, a conquista de Francia pode representar ventos de esperança para outros países, caso do Brasil.
Formada pela Universidade Santiago de Cali em direito, Francia é mãe solo de dois filhos e tem uma história de vida muito ligada ao ativismo social e ambiental. Nascida no distrito de La Toma, no oeste do país, foi a líder de um movimento popular contra a exploração mineral na região, luta que concedeu a ela o reconhecimento com o prêmio Goldman (considerado o “Nobel do Meio Ambiente”) em 2018.
Quando jovem, trabalhou como garimpeira de ouro e como trabalhadora doméstica, função que exerceu para pagar seus estudos.Quando maior de idade, liderou movimentos contra a expansão da mineração na região e foi crescendo dentro do cenário político colombiano. Durante a campanha eleitoral, ela prometeu, se eleita, ajudar na criação e manutenção de direitos para mulheres, negros, indígenas, camponeses e para a população LGBTQIA+.
De acordo com Luiza Batista, diretora-geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, a vitória de Francis indica que “os ventos da democracia estão soprando forte no continente latino-americano”.
“A vitória de Francia, uma mulher negra e ex-trabalhadora doméstica, é motivo de alegria e resistência, porque não é fácil, vivemos em uma sociedade racista, o racismo está estruturado em todos os ambientes. Desejo que, um dia, a gente também possa ver uma mulher negra assumir a vice-presidência, ou até mesmo a presidência do país. Temos mulheres negras muito qualificadas para isso. Temos de acreditar que a luta vale a pena, embora o processo seja muito lento. Temos que continuar insistindo e resistindo”, afirma Luiza.
Para Creuza Maria Oliveira, uma das fundadoras da Fenatrad, a conquista de Francia na Colômbia pode servir de inspiração para outros países, caso do Brasil:
“Seria muito bom se todos os países tivessem mulheres com essa história e com essa vitória, inclusive o Brasil. Mas, é assim que começa. Uma sobe e vai puxando a outra, seguindo de exemplo. Temos a Luz Vidal, no Chile, também uma ex-trabalhadora doméstica que se tornou subsecretária da Mulher e da Equidade de Gênero”.
Durante a campanha, Francia utilizou a famosa frase “Soy Porque Somos”, da filosofia Ubuntu, que também foi usada por Marielle Franco no Brasil: “Eu sou porque nós somos”. A candidatura, inclusive, foi apoiada pelo Instituto Marielle Franco, que esteve na Colômbia participando da campanha.
“É um momento histórico, de euforia, de a gente pensar que são novos ares soprando na América Latina. Ter estado com a Francia em março foi um momento de resistência, de resiliência. Me enche de esperança! E me faz pensar que poderia ser minha irmã (a Marielle Franco, vereadora morta em 2018), que tinha sonhos de alçar voos maiores na vida política. Então, fico sempre pensando onde será que a Mari estaria hoje, qual cargo ela estaria pleiteando? (…) É um momento de celebração, de atenção, de que não farão mais política sem os nossos corpos. Não podem mais ignorar o povo preto, enquanto pessoas e mulheres negras que sustentam e são a base deste país. Mas a gente vai seguir lutando”, pontua Anielle Franco, diretora executiva do Instituto.