Há 25 anos na defesa e promoção dos direitos das mulheres

Diversidade gera lucro

A presença de mulheres em cargos de liderança é um fato relativamente novo na história corporativa. O assunto passou a frequentar discussões sobre diversidade e, pela ação de legisladores, transformou-se em política de ação afirmativa em vários países. Anteriormente pensado como iniciativa voltada à justiça social, agora ganha um argumento de peso. Ter mulheres no topo talvez seja bom também para o resultado econômico das empresas.

Uma pesquisa realizada pelo Peterson Institute for International Economics e a empresa de auditoria Ernst & Young analisou quase 22 mil empresas de capital aberto de 91 países. Marcus Noland, Tyler Moran e Barbara Kotschwar, autores de um artigo baseado na pesquisa, concluíram que “a presença de mulheres em posição de liderança pode melhorar o desempenho da empresa. Essa correlação pode refletir tanto o retorno proporcionado pela não discriminação (contra mulheres) quanto o fato de as mulheres aumentarem a capacidade de a empresa lidar com a diversidade”.

A diferença entre os 91 países é grande. França, Finlândia, Noruega, Islândia e Espanha tornaram a presença feminina obrigatória em conselhos empresariais. Na Noruega, o caso mais conhecido, a cota é de 40% para certos tipos de empresa. A diferença entre setores também é apreciável. Finanças, serviços de água, eletricidade e gás, saúde e telecomunicações têm mais mulheres em posições executivas e no conselho, enquanto matérias-primas, tecnologia, energia e indústria ficam no fim da lista.

Diferentes setores oferecem também trajetórias distintas de carreira. Um estudo realizado pela consultoria McKinsey em 2012 revelou que no setor financeiro há um equilíbrio entre homens e mulheres na entrada dos cargos de acesso. A proporção de mulheres cai fortemente, entretanto, até a média gerência. A explicação estaria relacionada às características do trabalho no setor, com jornadas longas e alta dedicação, o que pode se chocar com as aspirações de mulheres com idade próxima de 30 anos. O mesmo estudo apontou que os setores de transporte, logística e energia costumam contratar poucas mulheres, mas as contratadas têm maior chance de atingir a média gestão e cargos no topo da pirâmide.

Segundo Noland, Tyler e Kotschwar, os maiores ganhos gerados pela presença de mulheres são relacionados à sua proporção nos postos executivos e nos conselhos das empresas. A constatação reforça a importância de ter mulheres em todos os níveis, conforme o desenvolvimento das carreiras. Não basta inserir mulheres isoladamente no topo da pirâmide.

Pesquisas anteriores constataram que um maior equilíbrio de gêneros entre líderes está associado a um valor superior das ações e à maior rentabilidade da companhia, e que empresas com maior proporção de mulheres no conselho têm desempenho superior àquelas com menor proporção. Outros estudos, entretanto, revelaram resultados diferentes, talvez um indício de que o impacto da diversidade em indicadores econômico-financeiros ainda não seja bem compreendido.

Noland, Tyler e Kotschwar tocam na polêmica. Por um lado, argumenta-se que forçar a presença de mulheres no topo pela imposição de cotas, por exemplo, pode ser contraproducente, por induzir as empresas a ter profissionais pouco qualificadas em cargos de alta responsabilidade, com geração de maus resultados. Por outro lado, defende-se que a escassez de mulheres no topo deve-se a práticas discriminatórias, conscientes ou inconscientes, e que as empresas que eliminarem a discriminação terão desempenho superior, por contarem com as competências específicas dessas mulheres. A diversidade de competências contribui para melhorar o desempenho corporativo, apontam diversos estudos. A divergência entre trabalhos anteriores e a natureza polêmica do tema elevam a relevância do estudo reportado pelo Peterson Institute, dada a sua abrangência.

Assim como os trabalhos anteriores, este apontou uma notável escassez de mulheres em posições de liderança: 60% das empresas analisadas não têm mulheres em seus conselhos, 50% não contam com mulheres em funções executivas no topo e somente 5% são presididas por mulheres. Em resumo, há longo caminho ainda a ser percorrido pelas empresas e pelas mulheres.

Fonte: Carta Maior


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