Themis percorre a região das Ilhas para reconhecer as necessidades do terreno
Um dos locais mais afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, o bairro Arquipélago, na Capital, recebeu a visita da equipe da Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos na última sexta-feira (14). A ação, que contou com a participação do Conselho Estadual dos Direitos Humanos e de representantes do Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACNUDH), teve como objetivo reconhecer as necessidades do terreno, especialmente de mulheres e lideranças comunitárias.
Segundo dados da prefeitura de Porto Alegre, 3.902 pessoas e 1.906 imóveis foram afetados pelas cheias no bairro – composto por Ilha do Pavão, Ilha da Pintada, Ilha Grande dos Marinheiros e Ilha das Flores. Devido aos alagamentos, todas as unidades de saúde do bairro foram fechadas. Um dos principais pontos de abrigo para desalojados, a Escola Estadual Alvarenga Peixoto, na Ilha dos Marinheiros, precisou ser desativada.
Assim como muitos bairros de Porto Alegre, a região ficou suja de barro e, em alguns pontos específicos, tomada de areia, após as enchentes. Ao circular pelo local, que se caracteriza pela proximidade e facilidade de acesso ao Centro da cidade e pela população, o que se viu foi uma região muito devastada e repleta de entulho, algo que se assemelha a um cenário de guerra.
Durante a incursão pelas diferentes ilhas, a Themis conversou com moradoras e moradores, bem como lideranças comunitárias, visando compreender quais são as principais necessidades emergenciais. Pensando nisso, a Themis retornará à região das Ilhas na próxima quinta-feira (27), das 9h às 16h, na Associação Vitória Ilha do Pavão (Rua A, 45), quando fará uma ação organizada de orientação e mapeamento de cadastramento das famílias atingidas, entendendo suas necessidades e garantindo a efetivação dos seus direitos.
Uma ação semelhante ocorreu no Centro Vida, na Zona Norte da capital, durante o auge da crise climática. Desde o início das enchentes no Rio Grande do Sul, a Themis tem realizado o Programa de Ajuda Humanitária para atender a sua rede organizada de Promotoras Legais Populares (PLPs), Jovens Multiplicadoras de Cidadania (JMCs) e trabalhadoras domésticas remuneradas, além de mulheres em situação de violência afetadas pela tragédia climática.
Confira o que disseram integrantes da ação:
“Foi impactante ver a situação da população das ilhas em Porto Alegre, vimos desde pessoas que perderam a memória pelo trauma, necessidades prementes de acesso a medicamentos, saúde e assistência social. Pudemos observar que parte daquela população começa a retornar às suas casas, devido a não adaptação aos abrigos, algumas nem saíram da região, somente foram para uma área mais alta, na beira da estrada mesmo, ficando olhando sua casinha, agora em escombros e cheia de barro, de longe, e quando perguntamos de onde eles eram, apontavam em direção ao rio e a lama, para onde estava sua morada. Quando fomos a alguns centros sociais das ilhas, local de muita vida como a colônia de pescadores Z5 ou as escolas da região, presenciamos o dano geral que a enchente causou naquelas importantes equipamentos, muita areia acumulada, prejuízo desde, o chão, as cadeiras, locais de lazer, documentos e até os materiais escolares”.
Júlio Alt, Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH-RS)
“A equipe encontrou um cenário desolador nas ilhas. A área é tradicionalmente propensa a enchentes, mas desta vez a devastação foi enorme. Muitas casas resultaram destruídas e algumas instalações e serviços serão incapazes de retomar as operações por muitos meses. A escassez de água e a falta de acesso a equipamentos de proteção individual dificultam as atividades de limpeza, aumentando o risco de proliferação de doenças. Além disso, identificamos outras necessidades básicas, como alimentação, habitação e saneamento. É importante que, como parte da resposta a esta emergência, todos os atores comecem a pensar em uma solução sustentável e resiliente para as famílias, garantindo o direito a um padrão de vida adequado com habitação segura e acesso a serviços essenciais. Nesse sentido, é crucial implementar ações preventivas para mitigar riscos futuros, melhorar o acesso à informação e proteger os direitos humanos dessas famílias.”
Equipe do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACNUDH)