Dignidade e Justiça em Tempos de Crise: a voz da Themis no Seminário do Conselho Nacional de Justiça
No II Seminário de Dignidade Humana – Acesso à Justiça: Superar Barreiras e Promover Igualdade, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça, a diretora executiva da Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, Márcia Soares, trouxe uma perspectiva contundente sobre as desigualdades ampliadas em contextos de emergências climáticas. Em sua fala sobre “Iniciativas de atuação em situações de crises climáticas: Uma análise a partir do racismo ambiental”, ela destacou como essas crises reproduzem e intensificam as desigualdades sociais, com impactos desproporcionais sobre mulheres e comunidades vulneráveis.
“O desastre não é democrático”, afirmou Márcia. Embora emergências climáticas afetem amplas regiões, são as populações que vivem em áreas de risco – predominantemente mulheres negras, chefes de família e pessoas em situação de pobreza – que sofrem as consequências mais graves. Ela ilustrou essa realidade ao citar as enchentes no Rio Grande do Sul, onde “o poder público respondeu prioritariamente às regiões de maior poder aquisitivo”, deixando comunidades periféricas desamparadas.
Márcia enfatizou que mulheres, responsáveis pelo cuidado de crianças, idosos e pessoas com deficiência, enfrentam desafios extremos em situações de calamidade. Em abrigos improvisados, essas mulheres se deparam com riscos de violência sexual e com a falta de estrutura para proteger suas famílias. “Esses abrigos reproduzem desigualdades sociais e tornam-se cenários de ameaças constantes. Muitas vezes, encontramos agressores e abusadores convivendo no mesmo espaço que suas vítimas”, alertou.
Dados da ONU apresentados por Márcia reforçaram a gravidade da situação: 80% das pessoas em deslocamento forçado no mundo devido a desastres climáticos são mulheres e crianças. Essa estatística revela uma desigualdade estrutural que se intensifica em emergências. Além disso, ela destacou o impacto sobre mulheres grávidas, que frequentemente dão à luz em condições precárias, sem acesso a serviços de saúde.
Outro ponto crucial abordado foi a ausência de mulheres nos espaços de tomada de decisão. De acordo com Márcia, “os comitês de crise são compostos majoritariamente por homens brancos e ricos, que desconhecem as realidades das comunidades vulneráveis”. Essa exclusão perpetua soluções ineficazes e agrava as desigualdades. Para ela, é essencial incluir as vozes das mulheres na formulação de políticas de resposta a crises.
Márcia também destacou o papel das mulheres como agentes de cuidado e liderança, mesmo diante de adversidades extremas. “Elas são as que mais sofrem, mas também as que mais resistem e sustentam suas comunidades”, afirmou. Para enfrentar os desafios das emergências climáticas, ela defendeu a criação de políticas que promovam a equidade de gênero e combatam o racismo ambiental.
A participação de Márcia Soares no seminário reforçou a urgência de repensar as respostas a desastres climáticos sob uma perspectiva inclusiva, que leve em consideração as desigualdades estruturais e dê protagonismo às mulheres. “Não podemos tratar uma emergência como um evento isolado. Precisamos enxergar como ela amplia desigualdades e lutar para que as soluções sejam verdadeiramente justas e igualitárias”, concluiu.