Há 25 anos na defesa e promoção dos direitos das mulheres

Saiba como foi o 3º Encontro Estadual de Promotoras Legais Populares

Promotoras Legais Populares (PLPs) de diferentes regiões do Estado participaram, no sábado (13), em Porto Alegre, do 3º Encontro Estadual de Promotoras Legais Populares. Foi um dia dedicado aos afetos, à troca de ideias e para se abastecer de novos conhecimentos.

No hall do hotel Embaixador, a troca de longos e afetuosos abraços entre as atividades, especialmente pela alegria do reencontro após dois longos anos de período pandêmico, deram o tom do que seria o encontro. Já no auditório, a abertura oficial do evento foi feita por Márcia Soares, diretora executiva da Themis, que falou sobre a importância de reunir as ativistas: “É uma alegria estar com vocês depois de tanto tempo sem podermos nos abraçar. Nos encontros virtuais, fomos construindo um calor, uma potência que foi guardada para o dia de hoje. Formamos um corpo forte de mulheres, uma soma das antigas com as que estão chegando. E não é por acaso que decidimos fazer o encontro hoje: estamos em um momento muito difícil do país, em um retrocesso no qual nossa democracia está ameaçada. E a Themis, enquanto organização feminista e antirracista, tem compromisso com a democracia. É um comprometimento com nossa comunidade, com nosso país. Além do momento de celebração, estamos aqui para tratar de uma agenda de incidência que ajude o país a seguir avançando”.

Na mesa de abertura, “Diálogos sobre ativismo e democracia”, o painel “O papel do Sistema de Justiça na atual conjuntura” contou com Élida Lauris, pesquisadora em direitos humanos, que instigou a participação das PLPs ao questionar sobre políticas de infraestrutura para mulheres. “Tudo o que a gente chama de infraestrutura de cuidado, nada disso avançou. Não se alcançou ainda uma mudança de governo que pense na vida das mulheres”, pontuou.

“Fomos ensinadas que Justiça não é política. Quando falamos de mudanças, nunca falamos de Justiça. Nossa expectativa é muito baixa para que haja mudança no Judiciário. Uma coisa que estes tempos horríveis nos deram, é uma visão política sobre a Justiça.” E afirma “a Justiça está politicamente posicionada, e não está ao lado das mulheres. Não é uma visão de respeito aos direitos das mulheres. Como a justiça está entrando na nossa agenda? Geralmente, não entra. Os próximos meses vão decidir o futuro do país. Com golpe, sem golpe ou com mudança do governo, o nível de destruição é muito alto. Temos que estar preparadas para os três cenários”, alertou a doutora em Pós-colonialismos e Cidadania Global pelo Centro de Estudos Sociais e Faculdade de Economia, da Universidade de Coimbra. 

Na sequência, as ativistas foram contempladas com a potente fala de Angelica Kaigang, mulher indígena, mãe e assistente social, durante o painel “A luta das Mulheres Indígenas no contexto atual”. “Pautar os povos indígenas é falar de toda a luta que as mulheres vêm enfrentando há mais de 500 anos. Nós fomos as primeiras mulheres a sofrer o massacre dos nossos corpos e dos povos. Todas as violações ainda acontecem e são muito fortes, mas as mulheres estão na linha de frente, defendendo seus filhos e seus territórios”, disse a mestranda em política social e serviço social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Emocionada, Angelica afirmou que “por muito tempo fomos invisibilizadas, caladas. E hoje poder estar aqui, falar em nome de toda essa ancestralidade, é uma responsabilidade enorme”. Após a fala, a indígena foi aplaudida de pé pelas PLPs, com a sensação de um grande abraço coletivo. 

A atividade teve sequência durante a tarde, quando as PLPs se reuniram em três grupos de trabalho. O primeiro, sobre violência contra as mulheres e racismo estrutural, foi facilitado pel advogada Domenique Goulart, mestre em Ciências Criminais pela PUC-RS. O segundo, sobre Violência Política de Gênero no Ativismo e no Contexto Eleitoral, ficou a cargo da historiadora Maria da Glória Kopp, doutora em Ciências Sociais pela PUC-RS. Também houve espaço para a discussão sobre Igualdade no Mundo do Trabalho e Empoderamento Econômico, com a advogada Jéssica Miranda Pinheiro, coordenadora da área de trabalho doméstico na Themis.

Cada grupo foi um espaço de intenso compartilhamento de experiências e vivências das promotoras em suas comunidades, além da proposição de sugestões para uma atuação comum das ativistas em todo o Estado. Após os debates temáticos, as promotoras voltaram a se reunir em plenária para aprovação dos pontos da agenda discutidos nos grupos, o que ocorreu entre aplausos e celebração pelo avanço das discussões.  A agenda será sistematizada e compartilhada em breve.


Veja outras notícias

.